segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Veterano: Um conto em várias partes para Dust Devils


"Veterano" é um conto que escrevi pensando em uma adaptação que fiz para Dust Devils usando a guerra do Vietnã como pano de fundo.

Coloquei ela no blog Saia da Masmorra e deixei o PDF AQUI no 4shared.

Não é meu país, nasci já no final da guerra, mas  o Vietnã foi uma força motriz em muitos filmes e seriados de minha infância,  e algo que sempre me atraiu.

Foi, no meu entender, a guerra mais honesta que já existiu. Não colaram nenhuma das tentativas patriórtticas e justificativas esfarrapadas, e é uma das poucas guerras onde os perdedores contam de fato sua história.

Foi uma guerra suja, cruel, estúpida, violenta e traumática para todo um país, e teve reflexos, ainda que a Era Reagan tenha mexido alguns pausinhos para tentar se esquecer disso, ficando fixada na memória como uma das maiores burradas politicas e militares da história ocidental.

Sinto tristeza pelos que morreram, americanos ou não, e me sinto mal por conhecer bem mais o lado ocidental do horror do que do exército do Vietnã.

Mas sou apenas humano, e faço o que posso.
Espero que o texto agrade.
Ele terá várias partes, que serão organizadas  por um indice.
A cada trecho colocarei um vídeo de uma musica que pode ou não ter algum significado maior, mas serão escolhidas simplesmente porque pensei nelas, de qualquer modo.

Abraços.


Veterano: Parte 1: Pasta de Amendoim:

14 de setembro de 1967.

Esta foi a data que mudou tudo. Estava com Mack e Mike na garagem de meu pai ouvindo  Somebody to Love, com Jefferson Airplanes, quando Lena,  minha irmã caçula veio trazendo uma carta nas mãos.


Já sabia o que significava, porque Steve, irmão de Mack, já havia recebido uma igual, um par de meses: A chance de provar minha hombridade em um campo de batalha. Não tinha nada a ver com aqueles sujos em uma kombie colorida, como Nicholas Michael Veninndry, da rua de baixo, que depois de passar anos fumando mato e dando desgosto para a mãe, fugiu para  o Canadá ao receber sua convocação. Não, claro, antes de roubar gasolina do tanque da Sra. Emma, vizinha de porta.


A Sra. Emma era a surda mais tuberculosa que já vi. Conseguia ouvir detalhes de conversas feitas à distancia e reproduzi-la em detalhes para toda a vizinhança.


Meu pai, Leonard F. Duckard Senior, serviu na Segunda Grande Guerra. Meu tio Robert, 5 anos mais novo, serviu na Coréia, e cresci mais fascinado com histórias de guerra do que de cowboys, ou mesmo de espaçonaves, como tem sido a moda.


O colégio terminou e estava pensando em ir trabalhar na loja dos pais de Sandra, que estão velhos e cansados de tantos roubos. As pessoas de cor tem perdido um pouco a noção da decência e acho que alguns deles podem ser os responsáveis. Seria um prazer, já que nem minha família nem a de Sandra se opunham a um casamento em alguns anos.


Nenhum de meus amigos ia para a faculdade, ou por falta de talento, ou por falta de dinheiro, mesmo. Stewart era o único com chances, já que conhecia música clássica como poucos, e, apesar da fama de efeminado, tinha ido comigo a um bordel quando viajamos um ano atrás.

Mas costumávamos não falar a este respeito. Após ser atropelado por um caminhão, e ter virado pasta no asfalto, ninguém mais falava nele, como se nunca tivesse existido. Quando alguém sem querer deixava ele entrar em algum assunto, passávamos ao largo do que tinha ocorrido. Era uma pena, porque ele era um cara bem legal. Stewie me ensinou uma porrada de coisas bacanas sobre música, e era ele que geralmente dirigia o carro do pai quando escapávamos para umas noites no colégio. Mas me assustava que ele fosse um fantasma da qual ninguém praticamente ousasse falar a respeito.


 Eu queria ser o oposto. Queria era que todos falassem de mim. Não como o bronco que morreu atingido por aqueles babacas estúpidos, mas como meu pai, que trouxe uma dúzia de medalhas no peito, uma dúzia de cicaterizes e respeito para a família em toda a vizinhança. Se morresse, que fosse como herói, e não como pasta de amendoim humana.



As cartas de convocação eram um pouco parecidas com o que faziam as pessoas sobre Stewie. Estava tudo ali, o medo da morte, a função da convocação, que era levar jovens para uma guerra do outro lado do mundo, a violência com a qual o modo de vida americano deveria ser defendido. E isso sem falar nada a respeito.

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