segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Em Belém...(Um conto vapt-vupt de Natal)

Em Belém...

Devidamente acomodados para dormir, o menorzinho pede ao avô:
-Conta de novo aquela história? Aquela de quando você nasceu?- Era época de tosar carneiros na região e os pais costumavam estar ocupados demais a ponto de preferirem deixar os filhos ao cuidado do velho ranzinza. Pelo menos com os netos ele tinha alguma paciência.O patriarca recomeça então a já conhecida trilha da história.
-Bom...deixe me ver aonde eu estava mesmo?
-Na manjedoura! Respondem os dois netos em conjunto.
-Isso! Manjedoura, aham... – prossegue- lembro-me bem agora. Era final do ano e era uma das noites mais bonitas que meus pais já tinham visto. Desde que nasci sabia que era especial. Eles estavam acomodados junto aos animais do estábulo, todos juntos porque estava especialmente frio.
E minha mãe, sua corajosa avó, que não dispunha dessas coisas modernas de hoje em dia disse ao seu bisavô: -Ò, é agora! Traz aquele balde de água aqui e não dá vexame e nem desmaia, tá legal?
-Meu pai- continuou enquanto fazia um ar compenetrado- então fez o que devia, que era basicamente, não interferir nessas coisas femininas, buscou água e ficou sem dar um balido, acompanhando a cena.
Lá fora pela janela, dizem, no momento que abri o maior berreiro uma estrela bonita e brilhante surgiu no céu anunciando meu nascimento .
Bom, de qualquer forma eu nasci peladinho, chorando que nem um bezerro desmamado e bonito (Não é a toa que vocês são bonitos: Puxaram a mim)! No meio de toda aquela palha, é bem verdade, meu pai ainda teve um pouco de dificuldades em me achar para romper minha placenta com os dentes, mas entendam, esse tipo de coisa, a Luz de lampião é complicado mesmo.
Já minha mãe, bem...ela comeu minha placenta com gosto (essa era a parte que os cordeirinhos faziam a cara enjoada, já meio ensaiada).
Tão importante foi meu nascimento que vieram três cavalheiros trazendo ouro, incenso e mirra uns dias depois para dar de presente. Deixaram lá com o pequenininho humano, mas em um lugar onde era fácil para mim alcançar e ver.
-O que é ouro, vovô?- Perguntou o maiorzinho.
-É uma coisa amarela, molenga e com gosto horrível.
-E o que é Incenso, vovô?- Perguntou o menorzinho, seguindo o roteiro.
-É um palitinho cheiroso, preto e de gosto bom.
-E o que é Mirra vovô?- perguntaram em um balido os netos.
-Não faço a mééééénor idéia!- respondeu, arrancando risinhos contentes.
Deu um beijo lambido em cada um dos netos, afofou sua própria lã e deixou ambos desabarem de sono, finalmente vencidos pelo cansaço.
Enquanto isso, a vaca ao lado faz uma cara de presépio. Melhor não discutir o assunto àquela hora.
Ainda mais com um cordeiro de Deus.

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PS: Os que me conhecem pessoalmente sabem o quão religioso eu sou: Absolutamente nada (sou ateu).
Mas gosto da festa de Natal e escrevi, anos atrás, o mini-conto acima, neutro o suficiente para agradar amigos cristãos, espero, e sem sair de minha visão cética (porém respeitosa).
Espero que gostem e feliz natal.

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